Cabrashow: a loucura documentada da vida. Pra quem gosta de ler!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Espetáculo

Sexta-Feira resolvi dar um balão em Downtown, que é o centro da city. Aí dizemos, "hoje vou ir pra cidade", se referindo ao centrão. Aqui é, "vou pra Downtown". Dam Tam.
Na subida da escada rolante dois carinhas cantando, pensei, preciso dar uma cagada urgente, dou esse bote no shopping mas já volto aqui.
Voltei e fiquei bem na frente deles, fuzilando mesmo. Pareciam que tinham vindo dos anos 60.

Uns cara muito If you're going to San Francisco.

Um era o proprio Neil Young mais novo, tocava o violão folk assim, cantava e tocava uma gaitinha de boca ao mesmo tempo. Camisa xadrez, calça jeans tuchada, um sapatinho muito If You're going to San Francisco, um cara muito ordenhou uma vaca pela manhã. O outro meio que um Marcelo Teixeira, meio bigodinho, um chapeuzinho hippie, um cabelinho comprido loirinho escorrido, tocando um Ukelele, uma calça tuchada e muito if you're gooooooing to San Francisco.

Eles tocavam freneticamente músicas caipiras dos anos 30. Anos trinta? Todos nós já ouvimos, umas musicas melancólicas meio Bob Dylan/Johhny Cashiadas.
Gritavam, cantavam bem alto e a galera só botando grana na capa do violão.
Um velhinho pára, dá uma boa considerada, vai lá e só repousa um 20 pila, "thanks sir", eles diziam. Uma oficial veio e os tocou dali. Eles chegaram meio perto de mim eu falei "why did you stop"? Eles responderam "She kicked us out". "She always do that". Fiquei sabendo que o cara principal meio que toca sozinho sempre, quase toda noite e quando rola este outro o acompanha. Os caras tinham menos de 21 e falaram que tiram tipo 70 a 80 dólares tocando na rua na noite louca.

Fui conversando com eles andando pela rua, isso foi legal. Eles me incentivaram muito a tocar também, diz que a primeira vez é meio foda mas quando tavam desempregado isso quebrava um galho. Falaram que em outra língua a galera considera bastante também.

Chegamos numa outra quebrada, mas isso centrão, fervendo, luzarada, japoneses, negrões hippie hoppers, indies, malucos, prédios, bares. Passamos por bastante gente tocando na rua também, um velho sé no ukelele que é aquele violãozinho havaiano.

Mauricio. El Salvador. Desenhos no chão, tinha chego em San Diego fazia 1 semana, ficara 1 ano em LA me disse que era quase homeless, que estava morando com a namorada num hotel e disse que só vive de arte de rua assim. Em Fevereiro quer ir pra San Francisco e simplesmente vai.

Fiquei muito pensativo no que seria se eu persistisse com minha idéia inicial de ir pra San Francisco. Os caras tavam falando que lá thá muito mais cultura e dizem que San Francisco é muito legal mesmo. Músicos, arte à tona. Um dia ainda vou. Mas aqui já to numa barca muito boa, com casa, pagando meio barato, e se foi... era pra ser.

Maurico tinha um bongo, tinha um nome certo mas eu esqueci, é um atabaque maior que vai no meio das pernas. E aí os caras desandaram a tocar as mesmas músicas de novo, desta vez nesse outro pico com o cara acompanhando. Grana, grana e grana.
A galera parava pra olhar, mulherada os considerava.

Uns pedcabs, estes que levam as pessoas numas bicicletas tipo umas carroagens assim pela cidade pararam e ficaram considerando muito, deram grana. Galera descolada também parava ver qual era, se interessavam nos desenhos do cara também.

Dividiram um pouco da grana com o bongo e tocaram, o vocalista pegou meu telefone pra ligar se tiver um trampo no cafe onde ele trabalha. Eu peguei o telefone da namorada do El Salvador pra avisar um dia pra ele levar o atabaque que eu vou me arriscar a tocar.
Pra mim que só faço uma grana nessa parada também, foda que o violão do Crash o brother da casa aqui não tem lugar pra alça, mas vou me jogar, certeza, pra ganhar uma grana.

Vou de Pira Piroca, Rato Romeu, Sinfonia dos Animais e será o que Deus vai querer.

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