Cabrashow: a loucura documentada da vida. Pra quem gosta de ler!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

The Mortician

Daí fomos numa festa de brasileiros. Bera vai bera bem chegaram dois gringos.
Abordei um, Brian. Os pais eram mexica mas tinha nascido aqui em San Diego portanto tinha um inglês muito legal.
Conversamos muito mesmo, tinhas umas idéias legais, relax, meio que não tava aí pra nada. Perguntei se ele entendia o que a galera ficava falando e ele respondeu que às vezes dá pra ter uma idéia do que a brasileirada tá falando mas que ele fica sussegado porque não é da conta dele. Rimos muito.

Mas fiquei mais abismado com a profissão dele. Ele disse que a qualquer momento poderiam ligar pra ele e teria que sair da festa pra pegar alguém que morreu.

Removal Technician, ou também Mortician. Brian vai com um furgão na casa das pessoas, entra, pega o cadáver, coloca no veículo, leva pra um outro lugar. Uma outra equipe lava, faz as unhas, um penteado, passa uma maquiagem, tampa os buracos e ele embalsama. É, alguma coisa assim.

Cada história muito louca que ele contava. Daí a primeira coisa que perguntei foi "Então você já pegou num defunto?". Ele respondeu, "sim, vários". Disse que hoje tinha sido tranquilo. Só umas pessoas bem velhas.
Ele falava as coisas e a gente filosofava. Não tem horário para a morte. As pessoas morrem à uma da tarde, às 8 da manhã, às 11 da noite, na caída da tarde, na madrugada. Aí você pensa, eu estava lá em casa assistindo tv e aquela pessoa estava morrendo. Estava na fila do banco e o outro à algumas milhas estava batendo com as botas!

Ele enfatizava e refletíamos. Criança, adolescente, adultos, homens e mulheres. Pessoas morrem a todo momento. E ele é o cara que vai aonde for, acidente, suicídio, infarto, esta lá removendo o corpo e trazendo pro que aí seria IML.
Perguntei se já tinha visto alguma gata morta na profissão. Gata morta, quero dizer. Uma gostosinha morta. Ele falou que algumas vezes. Acontece bastante é da gostosinha estar viva e com uma camisolinha curtíssima chorando aos prantos enquanto ele vai remover o corpo do avô dela. Daí fica aquela situação. Pra ele só mais um corpo em mais um dia de trabalho ,entretanto tem que dar uma de comovido e dar uma boa desbaratinada, não pode ficar fuzilando demais as pernas da netinha.

Sempre, no caminho, seja de manhã de casa para a primeira emergência, seja da primeira emergência pro IML, seja depois do almoço. Brian faz o uso da maconha. Enrola unzinho e vai até a última ponta que geralmente dá até no portão da casa da vítima. Dispensa, toca a campainha e entra remover o corpo. Forever high. (Trabalha sempre chapado)

Falou que é triste o que rola de crianças se afogarem. E também fetos, corpos minúsculos do tamanho, menores ou pouco maiores que o tamanho da nossa mão. Também muita gente morrendo de overdose. Mulherada, rapaziada esparramados no chão com uma seringa no braço. Crack, heroína, cocaína. A galera toma uma dose exagerada que o corpo não suporta e lá vai Brian os remover.

Não entendi direito, às vezes falava muito rápido, mas parece que durante uns tempos ele removeu mais de 16 suicidas da NAVY. Marinha americana. Pelo que entendi os jovens vão servir a pátria, deixam namoradinhas, famílias, vida boa. Ficam anos tomando no cu e quando voltam suas mulheres já estão com outros, o cachorro morreu, se percebem sozinhos e degolam-se.

Falou de adolescentes que se degolam também, 12, 13 anos. Que não dá pra entender o que se passa na cabeça dos infelizes.

Comentei sobre Elliott Smith, o rockeiro mais admirado e venerado pelo nosso grupinho aí em Ponta grossa que se matou desferindo punhaladas em seu próprio peito. Ele disse que pessoalmente acha que são vários os motivos que podem levar uma pessoa a se matar desse jeito.

Engraçado porque eu tava consideranto ele de tal maneira, por sua profissão, por sua vida, em outras palavras, ele estava com tanta moral comigo, que tudo que falava eu assinava embaixo.

Ele era muito engraçado, não tava nem aí pra nada. Meio um Luquinha.
Apenas mais um ali no meio da galera, meio que não entendendo, tomando uma cerveja. Curte um som. Apenas um cara normal.

Conversamos sobre várias coisas, sinto falta en não trocar mais idéias com americanos por aqui, mas não dá pra sair batendo de casa em casa na busca de um cara gente boa pra trocar uma idéia. Na verdade é sensato, por exemplo ontem vi dois caras no ônibus muito indies. Muito bens na fita trocando uma idéia sobre Bright Eyes ou sei lá o que. Só não abordei.

Mas às vezes abordo, sim abordo. Sou o que mais aborda daqui. Não tenho nada a perder e já tá passando muito rápido.

Legal que no Cabrashow a galera também me aborda. Do nada um cara sempre me aborda daí corro aqui contar pra vocês.

Fico muito filosofando a possibilidade de por exemplo uma pessoa chegar aqui e se arregar de um jeito a ponto de morar com uma pessoa na faixa, comer na faixa e ficar de carro por aí fazendo umas viagens só na base da lábia e da camaradagem. O que seria extremamente sensato pra gente. Se chegasse um gringo em PG meio passando fome, meio de cu tomado e super gente boa só iríamos abraçá-lo e encaminhá-lo nas barcas.

Se Caborteiro tem 6 pila, eu tenho 4 e Luimar tem 5. Vamos fazer o balanço total antes de sair pra noite, computar uma possível volta de apé, madrugueiro, e os goles que vai dar, mais barato, cerveja barata e a vininha (salsicha) antes de vazar de forma que fiquemos razoavelmente altos, poupando o máximo de grana e que a larica seja consideravelmente tapeada e também se for o caso todo mundo posa lá na minha casa.

As pessoas são cruéis, já dizia o meu tio Adrian Lincoln.

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